jan
Monitoramento de águas subterrâneas e suas vertentes

A crescente escassez nos recursos hídricos superficiais vem despertando gradativamente a consciência em realizar o monitoramento dos mananciais hídricos subterrâneos. Atualmente, temos em torno de 20% da população do estado do Paraná sendo abastecida com águas subterrâneas.
Ainda é muito restrito o conhecimento do funcionamento dos aquíferos subterrâneos para grande parcela da população. Parece simples, perfurar um poço e realizar a captação dessa água conforme a demanda, porém existem muitos fatores a serem observados para se assegurar a sustentabilidade em todo o processo de produção e exploração.
O primeiro passo para se realizar o correto uso de um poço profundo é a outorga, documento requerido ao órgão competente em cada estado da federação que regulamenta o uso das águas. Nesse documento constam o período de operação, volume a ser explorado, vazão de operação e demais dados construtivos e de análise físico química que são anexados ao processo. Baseado nesses dados, se faz necessário o monitoramento contínuo de operação da fonte, garantindo que o período de operação esteja dentro dos limites determinados pela outorga e o acompanhamento na evolução de todos os dados amostrados.
Quantitativamente, temos o nível do lençol freático como o principal fator a ser acompanhado na operação de um poço profundo, possibilitando a visualização dinâmica de como está se comportando no decorrer do tempo, garantindo que não esteja sendo rebaixado e ocasionando interferência em outros poços próximos que já estavam em operação anteriormente a construção desse novo ponto. Todavia, também é de suma importância o cruzamento entre todas as informações, vazão instantânea explorada, volume total produzido diariamente, juntamente com as horas de operação da bomba. Também em muitos casos se faz necessário a amostragem contínua de condutividade e temperatura da água, o que pode indicar contaminantes, variação da composição química e até mesmo a transmissividade do aquífero. O cruzamento desses dados possibilitam uma completa e profunda análise no comportamento das águas subterrâneas, garantindo que o processo seja sustentável e assegure a continuidade do bem no decorrer dos anos.
Quanto mais desenvolvida e difundida forem as tecnologias para se realizar essas atividades, menor será o custo de implantação e consequentemente mais projetos serão viabilizados, ampliando a rede de monitoramento e gerando cada vez mais informações a serem compartilhadas, estudadas e avaliadas por especialistas e toda a sociedade.
Existem vários métodos para realizar medições de líquidos superficiais e no subsolo, porém podemos dividi-los basicamente em sistemas manuais e eletrônicos. Nos sistemas manuais, o operador realiza a leitura manual em instrumentos analógicos, uma ou duas vezes por dia no máximo, sendo em muitos casos uma leitura mensal. Esse processo limita a interpretação sobre as informações levantadas, dificultando uma avaliação técnica mais minuciosa e detalhada. Em sistemas automáticos, sensores telemétricos são instalados no poço amostrando informações minuto a minuto, controlando a operação e desativando o sistema de bombeio na detecção de qualquer anomalia, tudo isso sem a intervenção humana. Sistemas digitais são muito mais confiáveis e robustos, elevando a qualidade das informações a um patamar muito superior, assegurando cada vez mais a sustentabilidade em todo o processo de captação de águas profundas.
Michel Ribas Galvão é Engenheiro Químico de formação e atua a mais de 10 anos na área de meio ambiente, saúde e segurança.